O que é isso, companheiro? #2


Sou da turma que é contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, e obviamente, sou do time que não vai pras ruas no dia 15 março. Em contrapartida, votei em Aécio Neves nas últimas eleições. Por isso, gostaria de pontuar minhas razões para ser contra o movimento de impeachment de Dilma Rousseff.

Antes de mais nada, Dilma foi eleita de maneira democrática (é claro que em uma das campanhas mais sujas da história da política brasileira como coloco no texto anterior) mas eleita democraticamente com mais 54 milhões de votos. Esse fato por si só já deveria ser motivo suficiente. Pedir impedimento de um presidente só porque o seu candidato não ganhou as eleições, é uma afronta ao maior bem que um país pode ter, que é a democracia.

Segundo, é que nós brasileiros temos que entender a seriedade do assunto. Impeachment é coisa séria. Pra se ter uma ideia, em 238 anos de democracia americana, os Estados Unidos tentaram impedir dois presidentes (em 1868 e 1998) e ambos foram absolvidos pelo senado e pela câmara dos deputados. E nós, grandes brasileiros, em nossos incríveis 30 anos de democracia estamos falando em impedir o segundo presidente da era democrática. De duas uma, ou gostamos de brincar de impeachment ou não sabemos votar. Em qualquer uma das alternativas, a situação é grave.

Gostaria de propor um exercício para continuar na minha argumentação. Desde que foi empossado em 01 de janeiro de 2015, qual atitude do governo federal pode ser repreendida do ponto de vista econômico e fiscal? Na minha opinião, nenhuma delas. O governo tem como ministro da fazendo um banqueiro dos mais duros do mercado. No momento de grave crise econômica que vivemos (com aumento da inflação – a maior desde 2005 – a maior taxa de juros do mundo, o PIB retrocedendo, etc), o governo está aumentando impostos, aumentando o preço da energia elétrica e dos combustíveis, alterando os direitos trabalhistas, cortando verbas da educação e dos projetos sociais, segurando os pagamentos das obras do governo (PAC), etc. A política oficial do governo federal é cortar custos.

E acho que esse é o ponto crucial do meu ponto de vista. A situação desesperadora que o país vive atualmente é resultado direto de incompetência de gestão pública do PT. Do descaso, da arrogância, do populismo e do “plano de poder” que o partido se apega mais do que aos interesses sociais e econômicos do país.

Ora, então por que na hora de pagar o pato, de sofrer as consequências, vamos tirar do poder aquela quadrilha partido que foi o causador de tudo isso?

O país está a beira de um colapso econômico, a base aliada do governo está se desfazendo, e o governo federal não tem outra alternativa se não tomar todas essas medidas impopulares que está tomando. Essa é a hora em que o PT vai ter que enfrentar seu eleitorado e mostrar que não vai cumprir nenhuma promessa de campanha, e que vai governar como o PSDB governaria se estivesse no poder. Essa é a hora em que o PT tem que mostrar que populismo puro e barato não faz um país crescer. Daqui a pouco, além do PAC, das alterações nos direitos trabalhistas, alguém vai ter que rever a lei do bolsa família. E quem deve dar a dura notícia ao país e seus eleitores? Que seja o PT. Se não tem mais verba pro programa social do governo, que seja o PT que enfrente a situação e seu eleitorado.

Em caso de impeachment, pouca coisa muda de fato nas nossas vidas e no cenário econômico do país. Como eu disse anteriormente, o novo governo vai continuar com a mesma política do governo Dilma, porém o PT deixa de pagar o pato, deixa de enfrentar seus eleitores com medidas impopulares e contrárias aquelas prometidas durante a campanha. E o pior de tudo, sai como herói da história, pois as medidas impopulares e necessárias serão atribuídas a saída do PT do governo. Já dá pra imaginar o que aconteceria em 2018, né? O salvador da pátria, o pobre que virou presidente, o sindicalista, voltará com um discurso ainda mais forte e mais populista de que só ele pode salvar os pobres desse país. E os 54 milhões de eleitores da Dilma vão acreditar…

Por último, existe apenas uma partido que eu despreze mais do que o PT. E esse partido é o PMDB. O PT é a quadrilha partido mais corrupto e incompetente que esse país já teve, mas pelo menos é ideológico. O PMDB se vende a quem pagar mais. E eu não quero apostar nenhuma das minhas fichas em Michel Temer, Eduardo Cunha, Renan Calheiros e companhia.

Não estou sugerindo passarmos por esse momento calados, só acredito não ser momento para um impeachment. Temos sim que fazer nosso papel de cidadãos e irmos pra rua cobrar soluções do governo. Pressionar, pressionar, pressionar e pressionar. Gritar a cada aumento de tarifa. Gritar a cada direito cortado. E sinceramente, acho que está funcionando. Nunca antes na história desse país se viu uma oposição tão forte a um governo do PT. Nunca se viu tamanha pressão da sociedade exigindo respostas e atitudes. Como resultado, vemos uma Dilma Rousseff que parece ter envelhecido 10 anos em alguns meses. Vemos Lula discursando na Petrobras em tom de absoluto desespero, um discurso de ódio, de incitação a violência e de incentivo a cisão de uma pátria democrática, mas feito ao som de uma voz cansada e ofegante. Sinal de que a pressão está funcionando.

Vamos deixar o PT pagar a conta.

Trechos do discurso de Lula em defesa da (indefensável) Petrobras. O discurso de ódio e de incitação a violência e a cisão do país é sinal de desespero político. A voz cansada e ofegante é sinal de que a pressão está funcionando.

9 Respostas para “O que é isso, companheiro? #2”

  1. Muito bom! Apenas discordo do seu ponto de vista de que nenhuma atitude do governo federal pode ser repreendida do ponto de vista econômico e fiscal.
    Entendo que grande parte da grave crise económica atual é culpa exclusiva deste governo petista. Por conta do populismo e do projeto de perpetuacao no poder, eles represaram os reajustes da energia elétrica, combustiveis nos ultimos anos e com isto sucatearam os sistema eletrico do país, além de dilapidar a patrimonio da Petrobras, segurando reajustes de combustivel por longo periodo (reeleicao). Agora estao passando toda a conta e de uma só vez aos contribuintes somando ao aumentos de impostos, quer dizer, reforma fiscal com uma só direcao, aumento de impostos sem corte de gastos da administracao federal.
    Enfim concordamos no tema de fundo; A incompetencia e a roubalheira do PT.
    Para terminar utilizo uma frase dita por um dos maiores empreendedores do Brasil, Antonio Ermirio de Moraes, que para mim se aplica muito bem ao PT.
    “A politica é a arte de pedir votos aos pobres, pedir dinheiro aos ricos e mentir para ambos”

  2. Brunão, antes da eleição do ano passado eu disse com todas as letras que o melhor para o Brasil seria a Dilma ganhar. Obviamente não votei nela porque não compactuo com esta corja de bandidos, mas eu entendia naquele momento exatamente o que vc coloca agora – chegou a hora do PT pagar a conta. Fosse quem fosse eleito e as medidas tinham que ser estas mesmas. Não tínhamos, ou não temos outra alternativa. Se o aecio ganhasse a eleição, o PSDB seria o responsável por jogar por água abaixo os “12 anos de glória do governo lula”….. E naquele momento a minha opinião era – a Dilma fica mais 4 anos aonde vamos sofrer muito (mas sofreríamos com qq um), e depois disto o PT implode e nos livramos deles pra sempre. Esta dando certo. Tb sou contra o impeachment agora. Penso que isto seria muito bom apenas para o ego. Ver estes canalhas atrás das grades só seria bom para nossa satisfação pessoal. Para o mercado, para as empresas, para todo mundo seria uma forma de piorar o momento horrível que já vivemos. E, concordo, com a possibilidade Clara do sapo barbudo voltar em 2018. Sinceramente, e por mais frio que seja esta minha análise, torço para 2 coisas acontecerem nos próximos anos – 1) que sobrevivamos com instituições fortes nos próximos anos – 2) que a cachaça, o câncer ou qualquer outra coisa leve o Lula daqui pra melhor (ou pior no caso dele), para que não corramos o risco do “Sassa Mutema”, o salvador da pátria, voltar em 2018 e infernizar nossa vida pelos próximos trocentos anos……

  3. Fedido, segue meu comentário ao seu texto.

    1 – Não há pedido de impeachment pelo fato do Aécio ter perdido. Esse é o discurso do “bolivarianismo” (segundo parágrafo);

    2 – Não se pode olvidar que comparar nossa democracia com a norte-americana é algo desarrazoado, mas se for o caso Nixon renunciou por tão menos (Watergate)… Por conseguinte, até mesmo para os ianques o Presidente não é intocável (terceiro parágrafo);

    3 – Eventual pedido de impeachment não resultará do desastre da política econômica, mas sim pelo alto escalão do governo, possivelmente, ter conhecimento e beneficiar-se do Petrolão (esse é o X da questão). Destarte, estaríamos diante de crime de responsabilidade (improbidade administrativa – art. 85, V, da CF), a resultar na perda do cargo – democracia é simples assim (sexto parágrafo);

    4 – Não se trata de A ou B “pagar o pato”. Trata-se do PT (se comprovado) responder aos crimes praticados na Petrobras. A discussão não se dá em justificar erros na economia, mas sim responsabilizar-se por possíveis crimes cometidos. E mais, não é o PT quem vai “pagar o pato”, mas sim nós estamos a “pagar” essa grande ave! (sétimo e oitavo parágrafos);

    5 – Sábias as palavras do “poeta” Tiririca: “pior do que tá num fica”. Acredito ser esse o “slogan” do atual governo. Oras, se piorar não vai, então por qual razão não trocar? (nono parágrafo);

    6 – Você afirma que dia 15 não participará da grande manifestação, mas ressaltou a necessidade de “irmos pra rua cobrar soluções do governo. Pressionar, pressionar, pressionar e pressionar. Gritar a cada aumento de tarifa. Gritar a cada direito cortado.” Eu vou pra rua cobrar, pressionar e gritar. Você não? (décimo parágrafo);

    7 – O Molusco fazer “discurso de ódio, de incitação à violência e de incentivo a cisão de uma pátria democrática” não é novidade. Esse sempre foi o “modus operandi” de quem disse que iria fazer “o diabo” para ganhar as eleições e, leia-se, para manter-se no poder. (décimo parágrafo);

    8 – O PT não vai pagar conta nenhuma… nós (o meu e o seu bolso) iremos (estamos) pagar (pagando) a conta. (décimo primeiro parágrafo);

    Em derradeiro, a famosa frase “the king can do not wrong” (o rei nunca erra), da época do absolutismo, parece estar a cada dia mais presente em terras Tupiniquis, ou, ao menos, no intelecto de alguns “vermelhos” que governam esse país a mais de uma década. Decerto, há no Brasil uma pessoa que acredita piamente ser Rei, daqueles que faz e desfaz, manda e desmanda, governa e desgoverna… é disso que se trata um possível impeachment (embora eu já tenha ressaltado, pessoalmente, que estamos muito longe, no atual momento, dessa hipótese de concretizar).

    • 1. Concorda que a ampla maioria presente nos protestos votou no Aécio? Concorda também que Dilma foi eleita democraticamente.
      2. Presidente não é intocável em lugar nenhum. Apenas comparei que em 238 anos de democracia houve dois pedidos de impeachment, ambos negados pelo congresso. No nosso caso, impedimos o primeiro presidente eleito pelo povo na nossa democracia.
      3. Ainda não tem crime. Quando tiver, ok… poderemos falar de impeachment.
      4. Se for comprovado crime, ok.
      5. Porque não vai piorar, mas quem assumir vai implantar medidas impopulares e o PT fica como herói da história.
      6. Sim, tem razão. Fui e precisamos mesmo fazer pressão.
      7. Concordo. Discurso de ódio é a cara dele. Vamos continuar pressionando.
      8. Nós vamos pagar a conta de qualquer jeito. Que seja com o PT no governo, pro partido continuar na vitrine.
      Vamos que vamos… fazer pressão, fazer pressão, fazer pressão…

  4. É isso aí! Ao concretizar o impeachment de Dilma, o partido que suceder o PT vai pagar o pato pela crise. Qual seria o discurso de “Luis Inásso Lula da Cilva” na campanha presidencial? Você é criativo, Pêra. O que é isso companheiro parte 3!

  5. Não entendi…acabou indo a rua afinal das contas? Por que mudou de ideia?

    • Leandro, minha namorada quis participar e exercer o direito democrático dela. Fui apenas acompanhar e no fim das contas me deparei com um cenário bem diferente do que imaginei. A enorme maioria não pedia o impedimento da presidente, e nas raríssimas ocasiões em que havia um cartaz de intervenção militar, o mesmo era amplamente vaiado. Vou em todas daqui pra frente, pressionar muito o governo federal, como eu bem coloco no fim do post.

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